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01 março 2006

SanFran Revisited







Deixei Colónia para trás e parti para uma nova aventura. São Francisco foi o meu destino seguinte. Um ano antes havia deliberado que o meu mês sabático pós-Colónia seria passado definitivamente no Brasil, por motivos vários. Quis o destino que em vez de mim fossem parar a São Paulo, a Gui e a Sani. A minha paragem seria de certeza por lá e daria as voltas pelos sítios que não tinha podido visitar da primeira vez. Mas também quis o destino outras coisas…e lá tive eu que mudar “do” São Paulo para “o” São Francisco…Tirando a pena evidente de não poder rever mais cedo as duas malucas, a troca foi mais que positiva e São Francisco entrou naquele leque de cidades onde não só voltaria como não me importaria de viver.

Mas São Francisco foi a descoberta de um país, de uma costa, de uma cidade…que em tudo, dizem, difere do resto. Dizer que São Francisco é a cidade mais europeia dos EUA, para quem não conhece outras cidades americanas, tem quase tanta piada como quando me disseram que Maastricht, na Holanda, era uma cidade conservadora! E, no entanto, quando o tempo passa, quando os nossos olhos deixam de ver o superficial, o essencial e passam para as entranhas, conhecem os vícios e as virtudes, se ouvem as conversas e se observam os movimentos tudo isso ganha sentido. Acredito hoje que, de facto, é uma cidade aparte quase como Colónia, na Alemanha. Engraçado como no meio de tantas diferenças quase que encontrava pedaços de Colónia em SanFran. A cidade é fabulosa mas para mim ganha na sua pluralidade, de sítios e de pessoas. Para quem a conhece pelos seus altos e baixos, pela famosa Lombard, sítios planos também os há; para quem a conhece pela famosa China Town (perdição total, por sinal) mexicanos, japoneses, russos e italianos também os encontramos e em grande quantidade; quem sonha em ir ao MOMA (ficas-me a dever uma…) experimente o De Young…fabuloso, no meio do Golden Gate Park. Posso imaginar Haight - Ashbury nos tempos áureos do Flower Power…lembro-me sempre da Janis Joplin…adoro-a, a sua voz rouca, a chorar os seus amores não correspondidos, não entendidos. Às vezes sinto que nasci na altura errada, no local errado… Confesso até que não deixei de sentir uma certa desilusão na minha primeira visita a Haight-Ashbury; é impossível a não existência de uma certa comercialização do local e para quem ia à procura de um certo “be cool” ou “peace and love”, ver a Gap ali no meio não deixou de me arrepiar um pouco. Mas como em tudo há que ter paciência e após algumas voltas mais lá encontrei um pouco do que procurava. O que foi Haight - Ashbury, o que é hoje, se os valores estão/estavam ou não deturpados dava conversa para horas; encontrei pessoas que se recusam a aceitar uma forma de vida materialista, “à la américaine”. Interessante ver como reagiam quando dizia que era de Portugal…a nossa ideia (preconceituosa, como sempre) de que todos os americanos são estúpidos e de que se centram apenas neles caiu em saco roto e mais uma vez confirmei a minha ideia de que pequenos somos nós quando achamos que todos os outros são iguais, estúpidos e ignorantes…todos, num saco com as cores da bandeira nacional. Existem modos de estar; falam definitivamente alto (coitados dos espanhóis…); gostam de falar deles, do que fazem, do sucesso das suas obras, do seu trabalho; o que para nós é falta de modéstia para eles é a constatação de um facto, do sucesso de horas a fio de esforço e dedicação e por isso não há qualquer motivo para não o dizermos e mostrarmos. Admiro a sua forma de estar no mercado de trabalho, no sentido de eternos insatisfeitos, sempre à procura de algo em que sejam melhores, algo que lhes traga maior satisfação. Mudar de área de trabalho, cidade ou estado não é problema, o que interessa é conquistarmos o que queremos. Querem melhor sonho que este? O verdadeiro “American Dream”! É nesta sua abertura, informalidade que porventura poderemos encontrar alguma falta de modéstia, o que em determinados contextos e momentos confesso, me causaram urticária…”o que é demais é moléstia”, claro está! Da hipotética falsidade ao tão falado falso–moralismo encontrei, sim, uma certa superficialidade naquilo que dizem e fazem com os outros como se as boas relações com os “vizinhos” fossem o prato principal para uma vida de sucesso. Já viram este filme em algum lado? Em todo o caso, não vale mesma a pena perder tempo a generalizar pois se até de um nova-iorquino para um californiano sentimos a diferença o melhor é mesmo conhecer pessoas, abrirmo-nos à cultura e ir na onda. O resto é conversa para políticos e incultos, ou para políticos incultos, ou simplesmente para incultos que se querem fazer passar por políticos.

Volto com vontade de lá regressar. E não há Bush e Bin-Laden que me afaste desta minha conclusão.

1 Comments:

  • Olá Sofia!

    Foi bom voltar a ler-te, e ainda por cima sobre algo com que me identifico tanto. É bom ler a tua visão da Califórnia. Gostei de ler e de me rever em muitas das tuas reflexões. É difícil ás vezes fugir aos chavões, mas é também urgente fugir da simplicidade e leveza com que se fala dos outros sem conhecimento. Se aprendemos que os chavões têm razão de ser, neste caso também aprendemos que eles se devem em parte à forma superficial como olhamos para as coisas muitas das vezes. E San Francisco faz sem dúvida parte daquele leque restrito de cidades especiais que conta com uma aura, um magnetismo, que a torna mais que um aglomerado de casas e prédios. San Francisco é sem dúvida uma cidade especial.

    Beijos

    By Blogger blue velvet, at 4:06 da manhã  

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