Crónica de um Galo Anunciado…
Ora aí está. O final que todos esperávamos mas não ousávamos dizer. Pela minha parte até augurei um penalty duvidoso a favor da França. Porque será? Voltamos à eterna e antiga questão…se fosse ao contrário, ele era marcado? Ou aquele mergulhozito do Cristiano Ronaldo, se fosse dado pelo Henry? Oh la la…Apesar disto e de tudo, esta teoria das Nações do futebol onde os mais “fortes” acabam sempre por seguir, sempre me irritou um bocado, principalmente porque na minha modesta opinião quem trabalha a sério vê os seus esforços recompensados. E portanto, após horas de discussão, contra discussão, suposições, injustiças e arbitrariedades lá reconheceríamos a superioridade do adversário. E esta França, talvez ainda mais cínica que a Itália, soube aniquilar tudo o que tínhamos de bom, jogar o q.b. e no final ter a frieza dos campeões. Nós, habituados à técnica “inata” latina, à técnica do desenrasca e do tudo por tudo lá fomos conseguindo resultados mas no momento da verdade falhámos e mais uma vez iremos discutir estratégias, resultados, mentalidades e teorias de conspiração à la FIFA. Pois bem, chegamos aqui e até podemos dizer que a mentalidade ganhadora estava lá, a ambição e o esforço também. E o resto? E os trabalhos de casa de Scolari? O que de novo nos apresentou ele? O que de novo vimos para além de tirar o Pauleta, meter o Simão, tirar o Figo e meter o Postiga? Que estratégia de jogo, que visão de jogo porventura terá Scolari que o distingue dos restantes mortais? Bem, o resto só Scolari poderá dizer. Mas se mantiver a sua postura “só falo dos convocados…”, perdão, “só falo do contrato no final do Mundial…”, perdão…enfim, a postura do “só falar do que quer, quando quer” dificilmente teremos explicações sobre este Mundial. Muitos poderão vociferar “mas que explicações?!?!? Fomos às meias!!!”. De facto. Todavia, mantenho a minha opinião de simples e reles comentadora de bancada: Portugal não jogou bem, teve sorte e viveu ainda à sombra de um grupo de jogadores campeões europeus que salvo erro e se não me engana a memória, Scolari teimava em início do Euro 2004 ignorar. Ricardo Carvalho, Deco, Maniche…enfim. Isto e mais um Cristiano R. a explodir (para o bem e para o mal).
Portugal teve um grupo alavanca: só não saltava dali em primeiro se não quisesse mesmo. Não era uma questão de poder, apenas querer. E quis e bem, porque tem jogadores que apesar de já terem ganho muito, têm sede de mais. A partir daí era o mata-mata, como Scolari gosta. E foi vê-los…a “matar”! Contra uma Holanda jovem mas tenrinha demais para a manha lusitana o espectáculo foi feio, provocador e demasiado sofredor. A saga da selecção fiteira e provocadora começa e, com razão ou não, lá vamos nós de peito feito comer bifes. A Inglaterra foi o adversário perfeito: óptimas recordações (como gostam estes jornalistas de estatísticas!!!), futebol com o qual nos damos bem, uma guerra apetitosa com os seus impiedosos tablóides. Tudo correu de feição mas jogar que é bom, nem vê-lo. Portugal limitou-se a ver correr o jogo e mesmo com expulsão de Rooney tamanha inércia foi arrepiante. Parecia que já sonhávamos com os penalties e ver o Rei Ricardo tomar de novo o seu trono. E não é que os ingleses desatam a disparar e a disparatar e o Rei labreca a defender?!?!? Glória nacional. E como já disse, esquecendo-nos nós do verdadeiro Rei, o Ricardo mas o Carvalho! Avante, ou melhor, Avant! Agora a coisa mudava de figura porque a vingança era nossa. Nós é que tínhamos que depenar o galo. A França em crescendo, com o capitão Zizou a comandar as hostes guilhotinou por completo o galo…mas o de Barcelos! Portugal foi o mesmo de sempre, Scolari não teve visão, não viu o que, por exemplo, Mourinho viu em três equipas francesas no ano em que foi campeão europeu pelo FCP. A plebe teima em ignorar os bleus, e na altura o nosso special one bem que avisou para os perigos destas equipas francesas, a sua matreirice, a sua rapidez e frieza em momentos capitais. Ninguém quis aprender a lição, foi preferível acreditar na sorte do destino, no acaso, na bola de cristal de Mourinho. Scolari porventura também não. A Senhora de Caravaggio estaria por lá com certeza, pensou ele. Até fico com pena, porque foi dos jogos em que mais gostei de Portugal. Uma entrega total dos jogadores, triangulações que pensava terem desaparecido do nosso jogo, enfim tudo preparado para a final. Com o golo da França esperava-se sim a tal visão de Scolari, aquilo que se espera dos treinadores, ver o que os jogadores em campo não podem ou não conseguem ter. Ver para além das emoções, das picardias, das injustiças. Ultrapassar a corrente natural do jogo. A França apesar de tudo controlava bem os nossos movimentos. E o que faz Scolari na sua eterna sapiência: tira Pauleta (incrível como falha sempre nos jogos em que é preciso marcar!!!) e mete Simão! Uau! Fabuloso, de génio, de certeza que o Domenech não estava à espera! De mestre! Após dois anos de luxo com Mourinho no banco do Dragão não posso mais com tamanha vulgaridade. Os grandes jogos decidem-se em pormenores, em pequenos detalhes e isso é que distingue os bons dos extraordinários. Scolari foi bom até onde pode (apesar de tudo, no Brasil todos se arriscam a ser campeões, contra turcos e contra todos…). Ricardo também, quem estava a marcar desta vez era o grande Zinedine. Meias-finais não se jogam, passam-se. Por isso é que sofro com o meu Porto: das meias-finais e finais perdidas não reza a história, nós queremos é vitórias!